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Formação profissional é um dos entraves para o desenvolvimento da Segurança Contra Incêndio no Brasil

Se a formação profissional determina a qualidade dos profissionais que atuam no mercado, a área de ensino de Segurança Contra Incêndio ainda tem muito a avançar no País. A escassez na oferta de cursos, bibliografia limitada, falta de padronização do currículo e problemas para a aprovação de projetos junto aos órgãos competentes na execução de obras são os principais desafios a serem enfrentados na formação dos profissionais que atuam no setor.

O engenheiro e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná, Ivan Ricardo Fernandes, conduziu uma pesquisa sobre o ensino de Segurança Contra Incêndio no País, cujo resultado revela que a forma como ele é aplicado não se adequa às necessidades do mercado e nem mesmo das exigências normativas dos Corpos de Bombeiros dos Estados ou das Normas Técnicas Brasileiras.

A pesquisa junto às instituições que têm cursos que tratam da Segurança Contra Incêndio revela que a maior parte deles aborda o tema na área de Engenharia de Segurança Contra Incêndio e Pânico. Neste universo, 46,1% o fazem por meio da disciplina de instalações hidráulicas e prediais; 30,8%, o fazem por meio de palestras/seminários junto ao Corpo de Bombeiros; 15,4% alegam ter carga horária específica para abordagem do tema pesquisado; e ainda 7,7% não informaram de que maneira abordam o tema.

Além da abordagem do tema de maneira não específica, há outras questões importantes que precisam ser corrigidas, como a falta de padronização do ensino curricular, apontada pela professora Rosária Ono, da Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo (FAU-USP). “É preciso entender as deficiências que existem na formação de arquitetos e engenheiros e propor um currículo mínimo para que eles possam qualificar os projetos que desenvolvem para serem aprovados”, comenta.

Neste sentido, outra pesquisa realizada por Fernandes junto ao setor de Análise de Projetos de Segurança Contra Incêndio e Pânico (PSCIP), do Corpo de Bombeiros de Curitiba, no Paraná, reforça a necessidade de aprimoramento da formação profissional, considerando que a maioria dos 50 projetos analisados cometeram erros nos procedimentos burocráticos, não apresentaram documentação técnica, de memoriais e de documentos com itens técnicos, como dimensionamento de sistemas preventivo móvel e fixo, sistema de detecção e alarme de incêndio e meios de abandono das edificações.

Para a professora Dayse Duarte, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a formação do profissional que vai atuar na área de Segurança Contra Incêndio precisa contemplar duas grandes áreas do conhecimento: a dinâmica do incêndio e a gestão do risco de incêndio nas edificações, em geral e na indústria. É preciso lembrar que as indústrias estão contidas em uma edificação, exceto a indústria de processamento, a exemplo do setor petroquímico, de petróleo e gás”, destaca.

A bibliografia é outra questão a ser melhorada. A análise produzida por Fernandes mostrou que 61,5% do material utilizado são de livros de Instalações Hidráulicas e Prediais. “Isso não reflete a necessidade de conhecimento que os profissionais precisam para dimensionar as medidas de segurança contra incêndio em seus projetos de edificações”, avalia. Percebe-se, ainda, que as legislações específicas dos Corpos de Bombeiros e mesmo as normas Brasileiras foram pouco citadas e isto reflete essa limitação dos conhecimentos.

Há consenso entre os especialistas de que a ciência de Segurança Contra Incêndio avançou muito nos últimos anos, mas este avanço não é refletido no ensino oferecido no Brasil.  “Há um incremento tecnológico considerável nas normas, como por exemplo, sistemas de controle de fumaça, critérios de segurança das estruturas, capacidade de agentes extintores, entre outros”, acrescenta Fernandes

Para equacionar os entraves do ensino, é necessário criar um currículo específico na formação dos profissionais que irão atuar no setor e incluir a multidisciplinaridade dos conhecimentos, segundo Fernandes. Rosária aposta na padronização do currículo e na criação de cursos de especialização e de atualização para quem já trabalha no setor.

Sob esse aspecto, a Frente Parlamentar Mista de Segurança Contra Incêndio, instalada em 2015, no Congresso Nacional, tem feito um trabalho exemplar ao adotar o tema como projeto prioritário.

O Conselho Consultivo da Frente tem um grupo que está trabalhando na proposta de formação de Segurança Contra Incêndio e reúne um time de peso de especialistas e de verdadeiras autoridades no setor, como os doutores acadêmicos Dayse Duarte (UFPE), Rosária Ono e Valdir Pignatta, da USP, o pesquisador e tenente-coronel do Corpo de Bombeiro do Distrito Federal, George Cajati, e o engenheiro e professor Ivan Ricardo Fernandes.